sábado, 19 de março de 2011

"Hoje passei diante de um parque de diversões. Fiquei observando as pessoas. Fiquei muito tempo parada diante da montanha-russa: vi que a maioria das pessoas entrava ali em busca de emoção, mas quando começava a andar as pessoas ali presentes morriam de medo e pediam para pararem os carros.
O que elas querem ? Se escolheram a aventura, não deveriam estar preparadas para ir até o final ? Ou acham que seria mais interessante deixar de passar por esse sobe-e-desce, e ficar o tempo todo em um carrossel, girando no mesmo lugar ?
No momento estou sozinha demais para pensar apenas em amor, mas preciso me convencer de que isso vai passar, estou nessa assim pois por parte fui eu quem escolhi este destino. A montanha-russa é a minha vida, a vida é um jogo forte e alucinante, a vida é lançar-se de pára-quedas, arriscar-se, cair e voltar a levantar-se, é alpinismo, é querer subir ao topo de si mesmo, e ficar insatisfeito e angustiado quando falhar.
Não é fácil perder as coisas que mais se ama na vida, expressar-se e dizer o que realmente tem vontade de falar, ouvir coisas que os outros inventam, errar e não poder tentar novamente. Mas a partir de hoje, quando ficar deprimida, vou lembrar-me daquele parque de diversões. Se eu tivesse dormido e acordado em uma motanha-russa, o que sentiria ?
Bem, a primeira sensação é a de estar aprisionada, ficar apavorada com as curvas, querer vomitar e sair dali. Entretando, se confiar que os trilhos são meu destino, que Deus está governando a máquina, este pesadelo transforma-se em excitação. Ela passa a ser exatamente o que é, uma montanha-russa, um brinquedo seguro e confortável, que vai chegar ao final, mas que, enquanto a viagem dura, me obrigo a olhar a paisagem ao redor e gritar de excitação !"

Reconstruindo o mundo

O pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de perturbá-lo. Já cansado com aquilo, arrancou uma folha - que mostrava o mapa do mundo - cortou-a em vários pedaços, e entregou-a ao filho.

“Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo, e quero ver se você consegue montá-lo exatamente como é”.

Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia.

Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.

“Sua mãe andou lhe ensinando geografia?”, perguntou o pai, aturdido.

“Nem sei o que é isso”, respondeu o menino. “Acontece que, do outro lado da folha, estava o retrato de um homem. E, uma vez que eu consegui reconstruir o homem, eu também reconstruí o mundo”.

Paulo Coelho