quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Trecho de : A insustentável leveza do ser

O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão.
O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.Então, o que escolher? O peso ou a leveza?"

Milan Kundera
"Apesar de todo o meu ceticismo, sobrou-me um pouco de superstição irracional,como a curiosa convicção de que todo acontecimento que me sucede comporta também um sentido, que ele significa alguma coisa; que a vida, por sua própria aventura, nos fala, nos revela, gradualmente um segredo, que se oferece como um enigma a ser decifrado, que as histórias que vivemos formam ao mesmo tempo a mitologia de nossa vida e que essa mitologia detém a chave da verdade e do mistério. É uma ilusão? É possível, é mesmo verossímel, mas não posso reprimir essa necessidade de decifrar continuamente a minha própria vida."

(Kundera, Milan. A Brincadeira. p.174)
Não era a vaidade que a atraia para o espelho, mas o encanto de descobrir-se...
E sentia que a maneira mais absoluta seria justamente não falar, não perguntar, mas se olhar em silêncio.

Talvez por que soubesse que ninguém poderia entender melhor sobre ela, a não ser ela própria...