sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vida...


Tudo é dado em penhor e uma rede é lançada sobre todos os seres: a loja está aberta, o lojista oferece crédito, o livro-razão fica aberto, a mão escreve, e quem deseja pedir empréstimo pode vir fazê-lo; e os credores circulam, diariamente, e obtêm pagamentos, com ou sem o consentimento do devedor. Eles têm em que basear as cobranças. E o julgamento é verdadeiro. E tudo está preparado para o festim.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

“Aterrado o senso de propriedade,
Pois que já não era o mesmo indivíduo,
Duplo nome de uma só natureza,
Que não se chamava dois nem um.
E depois ficou confusa a razão
Vendo aumentar em si a divisão”
(The Phoenix and the Turtle, William Shaekespeare)



Eles medem tudo.. casas, roupas, palavras e até sentimentos. Metrificados, medidos e comedidos. Superficiais como uma mão mal passada de tinta. Admirável mundo novo, o que está acontecendo com o ser humano, que antes era humano, demasiado humano, e hoje, não consegue ao menos, ser humano?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


Muitos olham, poucos vêem;
Muitos falam, poucos entendem;
Muitos escutam, poucos consideram;
Muitos observam, poucos absorvem.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Paráfrase de: TABACARIA (15-1-1928 )
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?

O mundo é para quem nasce para o conquistar.
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Calcando aos pés a consciência de estar existindo.


E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Ergo-me enérgica, convencida, humana...
Ao pensar e libertar na vida a reflexão de todos os meus pensamentos.
Sigo a em uma rota própria,
E sinto, num momento sensitivo e competente,
A consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Sempre isto! Ou sempre outra coisa? Talvez nem uma coisa nem outra...

É disso que eu tenho medo...

Trecho de TABACARIA (15-1-1928 )
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pregada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.